Sebastião Salgado: o Maior Ícone da Fotografia Brasileira

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Fotografia de Sebastião Salgado - Foto: Divulgação/Sebastião Salgado
Fotografia de Sebastião Salgado - Foto: Divulgação/Sebastião Salgado

Sebastião Salgado, um dos maiores nomes da fotografia, faleceu há um mês, deixando um legado inestimável para a fotografia documental e o fotojornalismo.

Conhecido por suas imagens em preto e branco, Salgado retratou com sensibilidade e profundidade temas sociais e ambientais, como conflitos e movimentos migratórios.

Mas sua trajetória vai muito além da câmera. Antes de se tornar fotógrafo, Salgado seguiu carreira na economia,  e foi justamente durante esse período que se descobriu na fotografia.

Neste artigo, vamos revisitar a trajetória de Sebastião Salgado, conhecer suas obras mais emblemáticas e entender por que o preto e branco se tornou sua principal linguagem visual.

Quem foi Sebastião Salgado?

Sebastião Ribeiro Salgado Júnior, nascido em 1944 em Aimorés (MG), formou-se em Economia (mestrado na USP, doutorado em Paris, 1971) e construiu uma carreira respeitada na Organização Internacional do Café (OIC), em Londres.

No entanto, foi durante essas viagens iniciais — usando a Leica da esposa Lélia — que seu olhar encontrou a fotografia, dando início a uma trajetória de reporte documental que mudaria sua vida e a forma de ver o mundo.

Economista por formação, Salgado tornou-se um dos mais influentes fotógrafos documentais e fotojornalistas do século XXI. 

Sua carreira profissional deu a volta ao mundo por meio das agências Sygma, Gamma e Magnum, onde cobriu eventos que marcaram sua geração — do atentado ao presidente Reagan até as crises humanitárias do Sahel.

Como Sebastião Salgado ficou conhecido?

Sebastião Salgado ficou conhecido como um dos mais importantes fotógrafos documentais do mundo, ao desenvolver um olhar genuinamente engajado com a realidade social e ambiental. 

Sua assinatura visual com fotos em preto e branco se tornou símbolo de coerência narrativa, destacando a essência das cenas sem as distrações de cor. 

Ao longo de décadas, Salgado dedicou suas fotos a temas urgentes, como conflitos, migrações massivas, trabalho árduo e pobreza — sempre com sensibilidade e crítica.

Também conhecido pelo seu compromisso ambiental, Salgado concretizou-se em 1998, quando, ao lado da esposa Lélia Wanick, fundou o Instituto Terra.

O instituto transformou áreas devastadas da Mata Atlântica em um projeto referência de restauração e sustentabilidade, com milhões de árvores plantadas e ações de educação ambiental — uma extensão prática do olhar sensível que já permeava suas imagens.

Essa união entre poder visual e propósito rendeu a Salgado reconhecimento internacional:

  • foi premiado com o Eugene Smith de Fotografia Humanitária, World Press Photo, entre outros;
  • foi o primeiro fotógrafo a receber o Prêmio da Paz dos Livreiros Alemães, em 2019;
  • Prêmio Príncipe de Astúrias das Artes, em 1998;
  • e, em 2024, recebeu o prêmio Outstanding Contribution to Photography, no Sony World Photography Awards, e com retrospectiva das suas primeiras obras em Londres. 

Seu trabalho não foi apenas fotografado, mas vivenciado. Suas fotografias têm o poder de criar empatia real e transformar percepções.

“Eu fotografo o que há de mais humano em nós: a luta, o sofrimento, mas também a resiliência e a esperança” - Sebastião Salgado.

Para outras citações importantes de Salgado, leia As Melhores Frases de Sebastião Salgado.

Fotografia de Sebastião Salgado - Foto: divulgação/Sebastião Salgado
Fotografia de Sebastião Salgado - Foto: divulgação/Sebastião Salgado

Por que as fotos de Sebastião Salgado eram em preto e branco?

A escolha estética das fotos em preto e branco foi adotada por Sebastião Salgado há mais de 40 anos, quando passou a se dedicar aos seus projetos pessoais. 

Segundo Salgado, os motivos que levaram ele adquirir a estética preto e branco eram que: a fotografia colorida dificultava a criação de uma sequência para as fotos, e a cor podia distrair do elemento principal da foto.

Para ele, a foto em preto e branco estabelecia uma unidade que o ajudava a  contar suas histórias, enquanto a foto colorida saía tudo muito diferente.

“No momento em que eu presto mais atenção ou me preocupo com a cor, como na camiseta vermelha de uma garota, posso ter perdido o mais importante, a sua expressão” - disse Sebastião Salgado, para uma entrevista a Folha de São Paulo, em 2022.

Ao transformar as cores em, como ele dizia, “gamas de cinza”, Salgado conseguia concentrar totalmente o olhar do espectador no ponto central da fotografia, seja ele uma emoção, uma expressão ou um detalhe simbólico.

Com o tempo, como o próprio fotógrafo revelou, passou a enxergar o mundo com esse olhar monocromático, que se tornou sua assinatura visual.

Fotos Mais Importantes de Sebastião Salgado

Ao longo de sua carreira, Sebastião Salgado acumulou prêmios expressivos e viu suas obras ganharem destaque em exposições internacionais e publicações renomadas. 

A seguir, conheça algumas de suas séries e fotografias mais reconhecidas e premiadas:

Serra Pelada — Mina de Ouro (1986)

Uma das imagens mais emblemáticas de Salgado, esta fotografia retrata a grandiosidade e a dureza do trabalho na mina de ouro de Serra Pelada, no Pará.

A cena impressiona pelo impacto visual e pela quantidade de garimpeiros registrados.

A série “Gold – Mina de Ouro Serra Pelada” ganhou reconhecimento internacional e foi exibida em importantes galerias e museus.

A foto principal foi eleita pelo The New York Times como uma das 25 imagens que definiram a era moderna.

Fotografia “Serra Pelada”, de Sebastião Salgado - Foto: Divulgação/Sebastião Salgado
Fotografia “Serra Pelada”, de Sebastião Salgado - Foto: Divulgação/Sebastião Salgado

Trabalhadores (1993)

Neste projeto, Salgado documenta o trabalho manual em diversos cantos do mundo, retratando lavradores, pescadores, mineradores e outros profissionais em sua rotina.

A série deu origem ao livro Trabalhadores, que foi amplamente premiado, incluindo o prestigiado World Press Photo, além de conquistar reconhecimento por sua versão impressa e pelas exposições que a acompanharam.

Fotografia “Trabalhadores”, de Sebastião Salgado - Foto: Divulgação/Sebastião Salgado
Fotografia “Trabalhadores”, de Sebastião Salgado - Foto: Divulgação/Sebastião Salgado

Terra (1997)

Com foco na luta dos trabalhadores rurais pela reforma agrária no Brasil, o livro Terra reúne imagens potentes e engajadas.

A obra foi reconhecida com o Prêmio Jabuti de Literatura em 1998, na categoria Reportagem, reafirmando o comprometimento social de Salgado por meio da fotografia.

Fotografia “Terra”, de Sebastião Salgado - Foto: Divulgação/Sebastião Salgado
Fotografia “Terra”, de Sebastião Salgado - Foto: Divulgação/Sebastião Salgado

Êxodos (2000)

A série Êxodos traz um olhar sensível e impactante sobre pessoas forçadas a deixar seus lares por conta de conflitos armados, crises econômicas e perseguições.

Ao retratar refugiados e fluxos migratórios com um viés profundamente humano, Salgado foi amplamente elogiado e premiado, consolidando ainda mais seu nome no cenário internacional da fotografia documental.

Fotografia “Exôdos”, de Sebastião Salgado - Foto: Divulgação/Sebastião Salgado
Fotografia “Exôdos”, de Sebastião Salgado - Foto: Divulgação/Sebastião Salgado

Gênesis (2013)

Neste trabalho, Salgado se volta para a preservação do planeta, registrando áreas intocadas da natureza e comunidades tradicionais que vivem em harmonia com o meio ambiente.

Gênesis percorre lugares como a Antártica, o Saara e a floresta amazônica.

A série teve repercussão mundial, sendo exibida em grandes instituições culturais e premiada por sua contribuição à fotografia ambiental.

Fotografia “Gênesis” de Sebastião Salgado - Foto: Divulgação/Sebastião Salgado 
Fotografia “Gênesis” de Sebastião Salgado - Foto: Divulgação/Sebastião Salgado

Amazônia (2019)

Dando continuidade à sua preocupação com a natureza e os povos originários, Amazônia é um projeto que retrata a diversidade da floresta, suas paisagens exuberantes e os povos indígenas que a habitam.

A obra foi destaque em exposições recentes e integra algumas das retrospectivas mais relevantes da trajetória de Salgado.

Fotografia “Amazônia”, de Sebastião Salgado - Foto: Divulgação/Sebastião Salgado
Fotografia “Amazônia”, de Sebastião Salgado - Foto: Divulgação/Sebastião Salgado

Você encontra essas e muitas outras obras de Sebastião Salgado disponíveis na Amazon, incluindo livros icônicos como Gênesis e Trabalhadores, entre outros.

Uma ótima oportunidade para conhecer de perto o olhar sensível e transformador desse mestre da fotografia

Conclusão

Sebastião Salgado nos deixou há pouco tempo, mas sua presença permanece viva em cada imagem que capturou e em cada história que escolheu contar.

Mais do que um fotógrafo, ele foi um observador atento das dores e belezas do mundo, alguém que usou a fotografia não apenas como arte, mas como instrumento de transformação social e ambiental.

Seus projetos revelam que fotografar é muito mais do que registrar: é envolver-se, compreender e dar visibilidade ao que muitas vezes é invisível.

A estética em preto e branco que tanto o marcou não era apenas uma escolha visual — era uma maneira de tirar o excesso e revelar a essência.

O legado de Sebastião Salgado é um convite à sensibilidade, à responsabilidade e à profundidade.

Que suas obras continuem inspirando novas gerações a enxergar o mundo com mais empatia — e a registrá-lo com mais verdade.