Foto do Ano: A Fotografia Marcante da Guerra em Gaza é Vencedora do World Presss Photo 2025

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Foto do Ano: A Fotografia Marcante da Guerra em Gaza é Vencedora do World Presss Photo 2025

Em um mundo marcado por conflitos, crises sociais e mudanças climáticas extremas, a fotografia tem se revelado como uma voz poderosa, capaz de capturar não apenas momentos, mas sentimentos profundos e histórias urgentes. 

E foi isso que aconteceu no World Press Photo 2025.

A cerimônia de premiação do World Press Photo 2025 aconteceu no dia 17 de abril, revelando a imagem que se consagrou como a Foto do Ano. E ela vem direto de Gaza.

A fotografia é assinada pela palestina Samar Abu Elouf, que capturou o retrato de Mahmoud Ajjour, um garoto de apenas nove anos que, ao fugir de um bombardeio em Gaza, perdeu os dois braços. 

Esta imagem emocionante, realizada em Doha, no Catar, onde Mahmoud está vivendo, resume com delicadeza e força a brutalidade de um conflito que tem ceifado vidas e deixado traumas indeléveis.

Neste artigo, você vai conferir o que fez dessa fotografia a escolha dos jurados, conhecer melhor a história de Samar, entender o papel do World Press Photo e descobrir outras imagens marcantes da premiação.

A Foto do Ano: um retrato de dor que reflete a guerra de Gaza

Foto de Mahmoud Ajjour, pela fotojornalista palestina Samar Abu Alouf
Foto de Mahmoud Ajjour, pela fotojornalista palestina Samar Abu Alouf

A fotografia que conquistou o júri do World Press Photo 2025 retrata Mahmoud Ajjour, um garoto de Gaza que perdeu os dois braços após uma explosão ocorrida por um ataque israelita, em março de 2024. 

Hoje, aos dez anos, Mahmoud foi fotografado, já em Doha, onde vive atualmente com a família após ter sido evacuado da zona de conflito.

Na imagem, Mahmoud aparece de frente para a janela do apartamento onde reside. A luz que atravessa suavemente o ambiente destaca seus traços delicados e seu olhar profundo — um contraste marcante com a tragédia vivida. 

A composição da cena lembra esculturas clássicas, unindo estética e emoção para transmitir a dor silenciosa do garoto.

O enquadramento e o uso da luz foram bastante elogiados pelos jurados do concurso, que também destacaram o simbolismo da foto e os questionamentos que ela levanta sobre o futuro de Mahmoud.

“O menino está de frente para uma janela e uma luz quente brilha sobre ele, lançando uma sombra suave em um lado do seu rosto. Sua tenra idade e belas feições contrastam com sua expressão melancólica. Você então percebe com um choque que ele está sem os braços.” - diz Lucy Conticello, Diretora de Fotografia do Le Monde e presidente do júri global do concurso.

A autora da imagem é Samar Abu Elouf, fotógrafa palestina que também vive em Doha — no mesmo complexo de apartamentos onde Mahmoud está abrigado. 

Ela deixou Gaza em dezembro de 2023, diante do agravamento da violência na região. 

O vínculo de proximidade entre fotógrafa e retratado ajudou a capturar não apenas um retrato, mas um momento íntimo de vulnerabilidade e força.

Quem é Samar Abu ELouf?

Fotojornalista Samar Abu Elouf. Foto registrada em Gaza. Divulgação: Samar Abu Elouf
Fotojornalista Samar Abu Elouf. Foto registrada em Gaza. Divulgação: Samar Abu Elouf

Samar Abu Elouf é uma premiada fotojornalista palestina, reconhecida internacionalmente por registrar e documentar, desde 2010,  o impacto dos conflitos e a realidade vivida na Faixa de Gaza, com sensibilidade e precisão.

Com um olhar comprometido com a verdade e a humanidade, Samar já colaborou com importantes veículos de imprensa, como o The New York Times, Reuters, NZZ e Middle East Eye

Sua presença constante em zonas de conflito, aliada à empatia com as comunidades retratadas, transforma suas fotografias em relatos visuais potentes e profundamente humanos.

O que é o World Press Photo?

O World Press Photo é uma das instituições mais respeitadas do fotojornalismo mundial. 

Fundada em 1955, na cidade de Amsterdã, na Holanda, a organização é independente, sem fins lucrativos, e tem como missão promover a fotografia documental como ferramenta de informação, impacto social e transformação.

O projeto é mais conhecido por organizar, todos os anos, o maior e mais prestigiado concurso de fotojornalismo do mundo.

A premiação destaca imagens que capturam momentos relevantes da atualidade em diferentes categorias, como notícias, conflitos armados, esportes, meio ambiente, retratos, entre outras.

Além de premiar fotógrafos de todo o mundo, o World Press Photo também busca estimular o pensamento crítico e aprofundar a compreensão global sobre temas urgentes. 

Por meio de exposições internacionais, debates e publicações, a organização usa a fotografia como ponto de partida para inspirar diálogo, empatia e ação.

Outras fotos premiadas no World Press Photo 2025

Além da emocionante imagem vencedora, o World Press Photo 2025 destacou outras fotografias que traduzem com sensibilidade e profundidade os desafios enfrentados ao redor do mundo. 

Os temas vão desde migração e mudanças climáticas até conflitos sociais e culturais — revelando a potência do fotojornalismo em registrar as complexidades do nosso tempo.

Travessia Noturna - Finalista

John Moore/Getty Images. Reprodução: National Geographic Portugal
John Moore/Getty Images. Reprodução: National Geographic Portugal

A imigração ilegal de cidadãos chineses para os Estados Unidos aumentou significativamente nos últimos dois anos, impulsionada por fatores como crise econômica, repressões políticas e restrições à emissão de vistos.

Na fronteira com o México, os registros de encontros com imigrantes chineses saltaram de 2.200 em 2022 para 38.200 em 2024.

A imagem finalista oferece uma abordagem mais humana à crise migratória, indo além dos números e discursos políticos — revelando, em cada rosto, uma mistura de esperança e desespero.

Secas na Amazônia - Finalista

Musuk Nolte/ Planos Pictures, Bertha Foundation. Reprodução: National Geographic Portugal
Musuk Nolte/ Planos Pictures, Bertha Foundation. Reprodução: National Geographic Portugal

A atual seca que atinge a região amazônica é considerada a mais severa dos últimos anos. 

Os rios da bacia estão sendo fortemente impactados pelas mudanças climáticas, como é o caso do Rio Negro, que, em outubro de 2024, registrou o nível mais baixo em 122 anos: apenas 12,66 metros — muito abaixo da média histórica de 21 metros.

Com o agravamento das secas, muitas famílias estão sendo forçadas a abandonar suas casas, provocando mudanças profundas no tecido social da região. A fotografia retrata como o clima extremo afeta diretamente as comunidades mais vulneráveis.

Os Encantadores de Elefantes de Livingstone - Vencedor África

Tommy Trenchard, Panos Pictures, para a NPR. Reprodução: National Geographic Portugal
Tommy Trenchard, Panos Pictures, para a NPR. Reprodução: National Geographic Portugal

Na cidade de Livingstone, na Zâmbia, a escassez de recursos e a expansão urbana aumentaram os conflitos entre humanos e elefantes.

Em 2024, pelo menos 11 pessoas morreram em decorrência de encontros com os animais, que invadem a cidade em busca de alimento.

A fotografia mostra o trabalho de uma equipe de voluntários que atua na proteção mútua entre moradores e elefantes, em uma convivência marcada por tensão, cuidado e resiliência ambiental.

Cheira a Fumo em Casa - Vencedor Europa

Aliona Kardash, Docks Collective, for Stern Magazine. Reprodução: National Geographic Portugal
Aliona Kardash, Docks Collective, for Stern Magazine. Reprodução: National Geographic Portugal

Na Rússia, a repressão contra protestos e o bloqueio a meios de comunicação independentes moldaram uma narrativa oficial sobre a guerra na Ucrânia, referida pelas autoridades como uma "operação militar especial".

A fotógrafa Aliona Kardash, russa radicada na Alemanha, utiliza sua imagem para refletir sobre o afastamento de sua terra natal e o impacto emocional de perder conexões com pessoas que passaram a acreditar em versões diferentes da realidade — um retrato sensível sobre desinformação, exílio e pertencimento.

A Manomania Chegou ao Fim - Vencedor Ásia

Chalinee Thirasupa, Reuters. Reprodução: National Geographic Portugal
Chalinee Thirasupa, Reuters. Reprodução: National Geographic Portugal

Em Lopburi, na Tailândia, os macacos — vistos tradicionalmente como símbolos de boa sorte — sempre atraíram turistas. 

Porém, durante a pandemia, a escassez de alimentos transformou o comportamento dos animais, que se tornaram agressivos, gerando conflitos com os moradores.

Em 2024, o governo local iniciou um programa de esterilização para controlar a população de macacos e restaurar o equilíbrio entre humanos e natureza.

As Piores Inundações da História do Brasil - Vencedor América do Sul

Amanda M. Perobelli, Reuters. Reprodução: National Geographic Portugal
Amanda M. Perobelli, Reuters. Reprodução: National Geographic Portugal

O estado do Rio Grande do Sul enfrentou, em 2024, as piores enchentes já registradas em sua história. 

Cerca de 600 mil pessoas foram desalojadas e 183 perderam a vida.

Segundo especialistas, os efeitos combinados do fenômeno El Niño e das mudanças climáticas duplicaram a probabilidade de ocorrência desse tipo de desastre, que tende a se tornar mais comum nos próximos anos.

A fotografia revela os esforços de quem tenta reconstruir a vida — enquanto alguns fogem, outros resistem.

A Mãe Move-se, a Casa Aprova - Vencedor África

Temiloluwa Johson. Reprodução: National Geographic Portugal
Temiloluwa Johson. Reprodução: National Geographic Portugal

Durante o Lagos Pride 2024, foi realizado o evento underground “Heavenly Bodies”, que reuniu membros da comunidade LGBTQI+ da Nigéria em um espaço seguro para celebrar a cultura ballroom e coroar a “mãe do ano”.

Em um país onde a comunidade LGBTQI+ enfrenta discriminação legal, exclusão social e violência, essa foi a terceira edição do Pride em formato drag, realizada em um local secreto.

A imagem retrata resistência, orgulho e o direito de existir com liberdade — mesmo sob perseguição.

Conclusão

A edição de 2025 do World Press Photo reforça o papel essencial do fotojornalismo como ferramenta de denúncia, empatia e memória.

A imagem vencedora, que retrata Mahmoud Ajjour, não apenas sensibiliza, ela nos obriga a encarar, mesmo que por um instante, a dimensão humana da guerra e das crises que assolam o mundo.

Mais do que estética ou técnica, as fotografias premiadas neste ano traduzem realidades complexas de forma acessível, aproximando o público de temas como migração, colapso ambiental, repressão política e resistência cultural.

Segundo dados da ONU, a Faixa de Gaza concentra atualmente o maior número de crianças amputadas per capita em todo o mundo. 

Em março de 2025, mais de 7 mil pacientes já haviam sido evacuados para receber tratamento médico fora do território, enquanto mais de 11 mil ainda aguardavam por ajuda. 

Números como esses reforçam a urgência de narrativas visuais comprometidas com a verdade.

A cada edição, o World Press Photo nos lembra que por trás de cada clique, há um mundo a ser revelado e, muitas vezes, transformado.